Se aqui nós temos a Fernanda Montenegro, em Hollywood eles são agraciados pelo talento de Meryl Streep.
Não há como deixar de reconhecer a coragem da premiada atriz, e quando se diz premiada, é simplesmente por não saber quantos prêmios a estrela vem colecionando em sua maravilhosa carreira.
Meryl como Miranda Priestly, em "O Diabo veste Prada" |
Leia a seguir o magnífico discurso, diria preciso na honradez e ético pela falta de necessidade de citar algum nome, desta mais que atriz, uma heroína:
“Muito obrigada. Por favor, sentem-se. Obrigada. Amo todos vocês. Vocês terão de me desculpar, pois perdi minha voz gritando e me lamentando nesta semana. E perdi minha cabeça em algum momento deste ano, então preciso ler [o discurso]. Obrigada, Associação de Jornalistas Estrangeiros de Hollywood [grupo responsável pelo Globo de Ouro].
Hugh Laurie, famoso por interpretar "Doctor House" |
Pegando a deixa do que disse o Hugh Laurie: vocês, e todos nós neste auditório, realmente pertencem ao segmento mais demonizado da sociedade americana hoje. Pensem bem: Hollywood, estrangeiros e a imprensa.
Mas quem somos nós? O que é Hollywood, afinal de contas? É apenas um monte de gente de lugares diferentes. Nasci, fui criada e educada nas escolas públicas de Nova Jersey.
Viola Davis, intérprete de Amanda Waller em "Esquadrão Suicida" |
Vencedora na categoria melhor atriz coadjuvante, por "Fences", Viola Davis apresentou o prêmio a Meryl, que tem outros oito Globos de Ouro na estante, num total de 29 indicações — incluindo uma deste ano, de melhor atriz em filme de comédia ou musical, por "Florence Foster Jenkins".
Viola nasceu em uma fazenda na Carolina do Sul e cresceu em Central Falls, Rhode Island.
Sarah Paulson, estrela da série "American Horror Story" |
Sarah Paulson nasceu na Flórida e foi criada por uma mãe solteira no Brooklyn.
Sarah Jessica Parker de "Sex and the City" |
Sarah Jessica Parker é de uma família de sete ou oito crianças de Ohio.
Amy Adams, atriz com cinco indicações ao Oscar e a doce princesa de "Encantada" |
Amy Adams nasceu em Vicenza, na Itália,
Natalie Portman, de "Cisne Negro" e outras premiadas produções |
e Natalie Portman nasceu em Jerusalém – cadê a certidão de nascimento delas?
Ruth Negga, de "12 anos de escravidão" |
A linda Ruth Negga nasceu em Addis Abeba, na Etiópia, e foi criada na Irlanda, acredito, e está aqui, indicada por interpretar uma garota de uma pequena cidade da Virgínia.
Ryan Gosling, de "Diário de uma Paixão" |
Ryan Gosling, como todas as pessoas mais legais, é canadense.
Dev Patel, o Jamal do premiado "Quem quer ser um milionário" |
E Dev Patel nasceu no Quênia, foi criado em Londres, e está aqui por interpretar um indiano criado na Tasmânia.
Então Hollywood está cheia de outsiders e estrangeiros, e se você expulsar todos eles [dos Estados Unidos] não terá nada para assistir além de futebol e artes marciais, que não são as artes.
Me deram três segundos [para concluir o discurso], então…O único trabalho do ator é entrar na vida de pessoas diferentes de nós e fazer você sentir como é.
Houve muitas, muitas, muitas atuações poderosas este ano que fizeram exatamente isso – trabalhos de tirar o fôlego, cheios de compaixão. Mas houve uma atuação este ano que me chocou, que cravou um gancho no meu coração. Não porque foi boa. Não foi nada boa. Mas foi eficaz e conseguiu o que queria, fez o público-alvo rir e mostrar os dentes.
Meryl lembrou o episódio em que Trump fez piada publicamente com Serge Kovaleski,
Serge Kovaleski |
repórter do "New York Times", que é deficiente físico.
O atual presidente dos Estados Unidos se referindo ao repórter do "The New York Times" |
Foi aquele momento em que a pessoa que estava pedindo para sentar na cadeira mais respeitada do nosso país imitou um repórter com deficiência – alguém em relação a quem ele tinha mais privilégio, mais poder e mais capacidade de enfrentar. [Esta cena] meio que partiu meu coração, e ainda não a consegui tirar da minha cabeça, porque não foi em um filme, foi na vida real.
E esse instinto de humilhar, quando é exibido por alguém em uma plataforma pública, por alguém poderoso, é filtrado na vida de todo mundo, porque meio que dá permissão para outras pessoas fazerem o mesmo. O desrespeito convida ao desrespeito, a violência incita violência. Quando os poderosos usam sua posição para fazer bullying, todos nós perdemos.
Ok, isso me leva à imprensa. Precisamos de uma imprensa com princípios para fiscalizar o poder, para cobrar cada absurdo. É por isso que os fundadores [da democracia americana] colocaram a imprensa e suas liberdades na Constituição. Então, apenas peço que a próspera Associação de Jornalistas Estrangeiros de Hollywood e todos da nossa comunidade se juntem a mim no apoio ao Comitê de Proteção aos Jornalistas, porque vamos precisar deles para seguir adiante, e eles vão precisar de nós para proteger a verdade.
Mais uma coisa. Uma vez eu estava no set reclamando de alguma coisa – íamos filmar na hora do jantar, muitas horas de trabalho ou qualquer coisa do tipo – e Tommy Lee Jones me disse:
Tommy Lee Jones de "Onde os fracos não têm vez" |
‘não é um enorme privilégio ser ator, Meryl?’.
Sim, é. E temos de lembrar uns aos outros do privilégio e da responsabilidade do ato de empatia. Todos devemos ter muito orgulho do trabalho que Hollywood está homenageando aqui esta noite.
Como a minha amiga que partiu, a querida Princesa Leia
Carrie Fisher como Princesa Leia em "Guerra nas Estrelas" |
[A atriz Carrie Fisher, a princesa Leia da saga Star Wars, morreu nesta terça-feira (27), aos 60 anos] me disse uma vez: ‘pegue seu coração partido, transforme em arte’. Obrigada.”
Que nada Meryl. Nós é que agradecemos!!!
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