ÚLTIMA CONFIDÊNCIA - VICENTE DE CARVALHO


Para lhes apresentar um de meus poemas preferidos, é necessário informar-lhes a respeito de quem o escreveu. Sim. "Última Confidência" é muito mais que uma despedida.
Vicente Augusto de Carvalho, mais conhecido como Vicente de Carvalho nasceu em Santos – São Paulo, no dia 5 de abril de 1866. Formou-se em Direito, em São Paulo. Trabalhou como redator e colaborador dos jornais O Patriota, A Idéia Nova, Piratini, O Correio da Manhã e A Tribuna; também colaborou no O Estado de São Paulo sob o pseudônimo João d’Amaia.

Vicente de Carvalho
Além de poeta, foi contista, jornalista, advogado e deputado. Enquanto ainda era um estudante de Direito na capital paulista, publicou sua primeira obra, Ardentias. Aderiu fervorosamente ao movimento republicano e elegeu-se deputado da primeira Constituinte Paulista. Insatisfeito com a carreira política deixou a vida pública em 1892 e passou a dedicar-se ao cultivo de café na cidade paulista de Franca. O reconhecimento literário chegaria apenas em 1908, ano em que Poemas e Canções – obra publicada originalmente em 1902 – obteve sucesso de público. Pouco se sabe sobre a vida particular do escritor. Em 07 de maio de 1909, assumiu a cadeira de número 29 da Academia Brasileira de Letras, como sucessor de Artur Azevedo.

Artur Azevedo
Fez parte do grupo Boêmia Abolicionista, no qual auxiliava escravos foragidos a se esconderem em quilombos. Atuou como deputado e ocupou o cargo de Ministro do Tribunal da Justiça do Estado de São Paulo. 

Ligado ao parnasianismo, seus livros mais conhecidos são: Ardentias (1885), Relicário (1888), Rosa, rosa de amor (1902), Poemas e Canções (1908) e Versos da Mocidade (1909).


Faleceu em 22 de abril de 1924.


ÚLTIMA CONFIDÊNCIA

- E se acaso voltar? Que hei de dizer-lhe quando
Me perguntar por ti?
- Dize-lhe que me viste uma tarde chorando...
Nessa tarde parti.


- Se arrependido e ansioso ele indagar: Para onde?
Por onde a buscarei?
- Dize-lhe: "Para além... Para longe..." Responde
Como eu mesma: "Não sei".


Ai, é tão vasta a noite! A meia luz do ocaso
Desmaia... anoiteceu...
Onde vou? Nem eu sei... Irei seguindo o acaso
Até achar o céu...


Eu cheguei a supor que possível me fosse
Ser amada - e viver.
É tão fácil a morte... Ai, seria tão doce
Ser amada... e morrer!...


Ouve: conta-lhe tu que eu chorava, partindo,
As lágrimas que vês...
Só conheci do amor, que imaginei tão lindo,
O mal que ele me fez.


Narra-lhe transe a transe a dor que me consome...
Nem houve nunca igual!
Conta-lhe que eu morri murmurando o seu nome
No soluço final!


Dize-lhe que o seu nome ensangüentava a boca
Que o seu beijo não quis:
Golfa-me em sangue vês? E eu murmurando-o, louca!
Sinto-me tão feliz!


Nada lhe contes, não... Poupa-o... Eu quase o odeio,
Oculta-lho! Senhor,
Eu morro!... Amava-o tanto... Amei-o sempre... Amei-o
Até morrer... de amor. 


VICENTE DE CARVALHO 
In Rosa, Rosa de Amor, 1923 

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