POR QUE EU GOSTO DA GISELE...


Eu nem sabia quem era ela, até ler esta entrevista na revista Playboy de agosto de 2000, edição de aniversário, na qual Joana Prado estampava pela segunda vez e sem o véu de sua personagem "Feiticeira".

Humana, inteligente, humilde, atenciosa, preservada, educada... ai, ai... são tantos adjetivos...
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Uma conversa franca com a top model número 1 do mundo sobre paqueras, baladas, sexo, prazeres e chateações da fama aos 20 anos

Sua mãe aprovaria com louvor. A moça sabe pregar botão, bordar, tricotar. Há dois anos, quando completou 18, deu-se de presente uma máquina de costura. Compra matelassê, faz um furo aqui, um corte ali e produz um top em 5 minutos. Ela também cozinha. Estrogonofe com arrozinho branco e batata palha. Jura que, quando achar o homem que merecerá ser pai dos três filhos que pretende ter, fará nele muitos cafunés com suas mãos "pequeninhas”. A moça é muito família. Fala a todo momento das cinco irmãs e dos pais, gaúchos de Horizontina, uma pequena cidade de 17.000 habitantes, a 500 quilômetros de Porto Alegre, perto da fronteira com a Argentina.Quando se despede dos parentes para longas temporadas de distância, ela tem dor de barriga.
A moça reza todos os dias. Fez promessa. Zelosa com os proventos, não gaga dinheiro em bobagens. Tem um dúplex em Nova York, uma casa de campo em Woodstock, apartamentos em São Paulo e Porto Alegre, dirige uma perua Lexus. Mas tudo isso é patrimônio. Entrar numa loja de grife e estourar o cartão de crédito não é com ela. Você provavelmente ouviria da sua mãe: "Essa daí vai empurrar você pra frente."
Num almoço de domingo em família, a única dificuldade dos comensais seria encontrar brechas para suas ponderações entre as frases rápidas da convidada especial. Rápidas e muitas. Proliferantes. Ela adora falar. E fala com entusiasmo, gestos, risos. Sobre tudo. Menos trabalho. Dá um duro danado e gosta de ter o direito de tratar de questões profissionais apenas nos momentos reservados para esse fim: entrevistas, reuniões, ensaios de desfiles. São mais de 150 desfiles por ano. Ela aparece na passarela e o mundinho fashion se ouriça. Marmanjos babões, gays esvoaçantes, gente andrógina de cabelo roxo. Foi eleita a top model número 1 do mundo pela revista americana Vogue, a publicação para a qual os profissionais da moda se ajoelham e dizem amém. No ano passado, a revista New York conferiu-lhe um título ainda mais alio, até então inexistente, o de über-model. Über, palavra alemã, significa acima, além. É uma frescurite inédita fácil de explicar: como ela não há e nunca houve nenhuma no planeta.
A moça que deixaria sua mãe impressionada é de uma generosidade comovente. No primeiro encontro com PLAYBOY, disse que não sabia se tinha celulite. "Desfilei de biquíni há pouco tempo e disseram que não tenho. Mas não sei porque não fico no espelho espremendo a bunda." No segundo encontro, depois que sua amiga Fernanda Tavares desfilou no Morumbi Fashion exibindo uma frágil camada de paneake sobre as imperfeições glúteas, ela mudou o discurso. Disse que, se apertar a bunda, acha, sim. Ou seja: é a primeira mulher da História a ter celulite em tese. Só por solidariedade.
Agora, diga uma coisa: mamãe não adoraria? Para entrevistar esse encanto de garota, PLAYBOY destacou o redator-chefe da revista, Kaíke Nanne. Eis seu relato: "Meninos, eu vi. Vi a barriguinha. O piercing no umbigo. A tatuagenzinha de estrela no pulso esquerdo. Eu beijei. No rosto, é verdade. Mas beijei. Senti o cheirinho. De bebê. Gisele Bündchen é esplêndida. Sabe disso, mas faz de conta que não. Falava comigo com simplicidade, como se tivéssemos sido colegas de escola. Sorria. Às vezes tão escancaradamente que dava para ver todos os seus branquíssimos dentes sem nenhuma obturação. Nossa primeira rodada de conversa foi num hotel em São Paulo. A segunda, num salão de beleza, horas antes de um dos desfiles do Morumbi Fashion. Em ambas me diverti muito, como você pode vera seguir:"

PLAYBOY — Se eu quisesse conquistar você, o que deveria fazer?

GISELE BÜNDCHEN — Você provavelmente deveria ser meu amigo primeiro, não perguntar de trabalho, ser legal, inteligente, divertido. [Pausa.] Não sou muito de looks, gosto mais de conhecer. É com o tempo que a pessoa me cativa, não é de um dia para o outro, não. Adoro gente engraçada, adoro senso de humor. Hoje em dia é difícil encontrar um homem que faça você rir. E isso é a minha coisa favorita.

PLAYBOY — Seguindo os passos da conquista, agora eu quero te convidar para jantar. Que tipo de restaurante seria um bom programa?

GISELE — Um que tivesse churrasco ou feijão com arroz. [Risos.] Ou um bom japonês.

PLAYBOY — Cinema. Que tipo de filme?

GISELE — Uma comédia.

PLAYBOY — E se eu quisesse dar um presente, qual te deixaria feliz?

GISELE — Ah, não sei. [Hesitante.] Eu gosto de quadros, adoro arte... [Pausa.] Flores sempre são românticas.

PLAYBOY — Qual flor?

GISELE — Gosto de orquídeas. São as mais bonitas.

PLAYBOY — E eu deveria fazer o tipo romântico ou durão?

GISELE — Toda mulher gosta de homem romântico. Mas tem de ser um balanço. Não pode ser muito durão nem muito nhenhenhém.

PLAYBOY — Já é um bom começo para a paquera. Mas, infelizmente, você está comprometida, não?

GISELE — Não! [Risos.] Quando eu estiver namorando você vai saber!

PLAYBOY — Ué? E a história com o Leonardo DiCaprio?

GISELE — É o seguinte: ele é meu amigo, é charmoso, é legal, é supergente fina, é inteligentíssimo. Estamos saindo. Estamos nos conhecendo. Ainda não podemos dizer que é um namoro. Não sei o que as pessoas falam.

PLAYBOY — Falam, não. Saíram fotos de vocês dois juntos na Califórnia, nos Estados Unidos.

GISELE — [Gaguejando.] É que e-eu... [Pausa.] Eu estava em Los Angeles trabalhando, fazendo um editorial para a [revista americana] Bazaar. Fui para Malibu porque ia fotografar lá durante dois dias. Aí o Leo me ligou: "Ah, você está aqui? Nananã... Vamos lá, eu tenho uma casa aqui também..." Eu estava na mesma praia fotografando na casa que era da Demi Moore. Então ele falou: "Estou na minha casa, passa aqui." Aí eu andei pela praia e o encontrei. Foi assim. [Risos.]
PLAYBOY — E ele não jogou charme?

GISELE — Você está tentando... [Risos.] Eu não falo mais nada sobre isso.

PLAYBOY — Dizem que ele está muito a fim mas você só quer ser amiga. É verdade?

GISELE — Não sei. Nunca o ouvi falando isso.

PLAYBOY — Pergunto só como uma oportunidade para você esclarecer.

GISELE — Não sei. [Faz riso maroto.] Por enquanto estou feliz assim.

PLAYBOY — Ele está barrigudo, né?

GISELE — Ele teve que engordar 25 quilos para esse filme novo [Gangs of New York]. Vai fazer o papel de um gangster maldoso. Isso é o que o ator faz. Lembra-se do Robert De Niro, que engordou 30 e poucos quilos para fazerTouro Indomável ?

PLAYBOY — O que é legal na convivência com o DiCaprio?

GISELE — Ele entende o que eu passo [com o assédio], porque passa pelas mesmas coisas, gente falando mal dele, querendo derrubá-lo, com inveja. As pessoas falam mentiras que machucam de vez em quando. A gente conversa bastante e ele faz com que eu me sinta melhor.

PLAYBOY — O assédio incomoda muito?

GISELE — Incomoda. Todo mundo tem dias bons e dias ruins. Às vezes, aconteceu alguma coisa, você está triste, vai passear na rua e aí chega um cara incomodando ou alguém tira uma foto na sua cara. Se vou num restaurante as pessoas falam o que eu comi. Sai na revista no dia seguinte: "Gisele foi ao restaurante tal, com tal pessoa e estava comendo isso, isso e isso."

PLAYBOY — Você chega a sair disfarçada?

GISELE — Em Nova York saio sempre de boné, óculos escuros, o cabelo dentro do boné preso ou num coquinho. Faço assim, ó. [Com as mãos, junta na nuca os longos cabelos.] Sou simples. Não tenho um par de saia curta, não uso salto normalmente, só quando estou a trabalho. Ó [mostra o salto de seis centímetros]. Isso aqui é o máximo. Ando parecendo uma mendiga. Saio de casa com calças rasgadas, com um tênis velho e camiseta larga para as pessoas não verem muito. Porque tem gente que reconhece pelo corpo! Ah, também reconhecem pela Vida [a cachorrinha yorkshire]. Às vezes ela está na cestinha da bicicleta e eu ouço gritarem: "Gisele! Gisele!"
 
PLAYBOY — Você nunca olha?

GISELE — De vez em quando eu olho porque pode ser alguém que me conhece. Quando vejo que é uma pessoa, que nunca vi na vida, eu uuuuuu... [virando o rosto para o outro lado].

PLAYBOY — Você recebe muitos trotes telefônicos?

GISELE — Estava recebendo trote na minha casa, às 2 da manhã. O telefone tocava e eu achava que era alguma coisa com a minha família. Meus amigos sabem que depois da meia-noite ninguém me liga. Tinha gente ligando e falando coisas que me assustavam: "Sei onde você mora, vou te encontrar".

PLAYBOY — Foi uma pessoa só ou mais?

GISELE — Sempre voz de homem, mas nem sempre a mesma voz. Já mudei o meu telefone este ano umas seis vezes. Agora está melhorando. Os maníacos se acalmaram um pouco. [Risos.]

PLAYBOY — Vamos falar um pouco do passado. Qual a melhor lembrança que você tem da infância?

GISELE — [Falando rápido, emendando uma frase na outra.] A casinha de boneca que o meu pai construiu. Ele não queria que a gente destruísse a nossa casa. Éramos seis meninas, umas maluquinhas quebrando tudo. A gente arrombava casas abandonadas, ia lá e fazia o nosso lugarzinho, eu e minhas amigas. Eu também adorava andar de pé descalço e subir em árvore. Sabe aquela árvore, flamboyant?
PLAYBOY — Sei.

GISELE — Tinha sete na frente da minha casa. Eu passava de uma para outra.

PLAYBOY — Pulava que nem Tarzan?

GISELE — É. Eu era um macaco. Até mais ou menos 7 anos andava de calcinha pela rua, correndo, tomava mamadeira... Tomei mamadeira até os 11.

PLAYBOY — Como é que é?!

GISELE — É, eu tomei mamadeira até os 11 anos. Três por dia. Já jogava vôlei, era uma menininha e continuava tomando mamadeira. Só que ninguém podia saber disso. Eu não queria que as minhas amigas soubessem. Nossa! Minha mãe colocava o leite no copo e eu não queria. Em casa, todo mundo me gozava. Minhas irmãs falavam:"Você já está enorme! Como é que fica fazendo isso?!" [Risos.]

PLAYBOY — Numa família tão grande, você e mais cinco irmãs, tinha muita briga?

GISELE — Nós sempre fomos muito unidas. De vez em quando tinha briga de puxar cabelos. Mas meus pais chegavam em casa e acalmavam.

PLAYBOY — Eu li que vocês brigavam durante o almoço.

GISELE — Isso é normal numa família grande. Minha mãe trabalhava no banco, saía às 6 horas da manhã. Meu pai trabalhava todos os dias. O almoço era a hora sagrada em que todo mundo se sentava para conversar. Mas era só 1 hora! E a gente voltava da escola com um monte de coisas para contar. Todo mundo queria falar ao mesmo tempo. Meu pai fazia assim: [batendo com a mão na mesa] pá-pá-pá! Ele falava: "Pelo amor de Deus, uma de cada vez!" Daí começava a briga, eu queria falar alguma coisa, minha irmã queria falar outra, aí eu pinicava ela porque ela estava falando na minha vez... [Risos.] Ou você tinha que levantar o dedo mais alto, gritar mais. Era muito engraçado.

PLAYBOY — Foi nessa época que você juntou uma turma para imitar as paquitas da Xuxa?

GISELE — [Risos.] Eu tinha 11 ou 12 anos. Foi num festival de música sertaneja na minha cidade, mas você podia ir lá e cantar qualquer coisa. Então, eu e minhas amigas fizemos esse grupinho de paquitas, a mãe de uma menina da turma comprou microfones e começamos a treinar em casa. Fomos ao festival, as piores do mundo, não ganhamos nada, foi o ó do borogodó. Depois começamos a ser convidadas para animar festinhas de aniversário. A mãe de uma amiga indicava o grupo para outras mães. Era tudo entre amigos. As criancinhas adoravam as paquitas e achavam nosso grupo legal. Chegamos a animar festas em Horizontina [RS] e até em cidades vizinhas.

PLAYBOY — Ganhavam dinheiro?

GISELE — Não, a gente não ganhava nada, mas comia brigadeiro, docinho e cachorro-quente de graça.

PLAYBOY — Você tinha vários apelidos, não é?

GISELE — Olha, teve um tempo em que isso me atrapalhou bastante, me deixou muito triste. Eu tinha três apelidos: Saracura, Olívia Palito e Somaliana. Sabe aqueles chaveiros de esqueletinhos que se mexem? Todos os meninos da minha classe tinham para gozar da minha cara. Um dia eles fizeram um cartaz com uma foto, dessas que saíam naVeja, de uma mulher da Somália morrendo de fome. Colaram numa cartolina branca e em vermelho um amigo meu desenhou um esqueletozinho no rio e escreveu: "Ela está navegando morta voltando da Somália", alguma coisa assim. Quando cheguei de manhã na sala de aula, comecei a chorar e fui falar com o diretor [com voz chorosa]: "Não pode ser, não pode ser..."
 
PLAYBOY — E você era muito magricela mesmo?

GISELE — As minhas pernas eram da grossura do meu braço. [Risos.] No vôlei, as meninas tinham aquelas pernonas, aqueles corpões, eram todas gostosonas. A gente ia jogar em campeonatos e eu sempre era gozada. Era a mais magra possível e ainda tinha aquele cabelo que vinha até a bunda. No jogo, quando eu caía no chão, todo mundo gritava: "Vai quebrar! Vai quebrar!" [Risos.]

PLAYBOY — Você não fazia nada para tentar engordar?

GISELE — Não. Eu comia muito, e muita porcaria, porque tinha fome mesmo. Sanduíches, chicletes, balas, fandangos... Queria comer a tarde inteira. Mas sempre fui muito energética, fazia muitas coisas ao mesmo tempo. Fui uma criança ativa. Além do vôlei, fazia aulas de piano, de tênis... Fiz balé por cinco anos. A minha mãe sempre nos deixou muito ocupadas. Não tinha esse negócio de assistir televisão o dia inteiro. A gente podia escolher uma novela, só uma e mais nada.
PLAYBOY — E as paquerinhas de pré-adolescente?

GISELE — O primeiro beijo que dei foi quando tinha 14 anos. De 14 para 15.

PLAYBOY — Quem era o garoto?

GISELE — Um menino da minha escola, super gente fina, que eu adorava. O Alessandro Bogado. Era dois anos mais velho que eu. Ele agora mora em Tocantins. A gente se beijou uma semana antes de eu me mudar para São Paulo. Dei um beijo e fiquei sem dar mais beijos porque fui embora, fiquei desesperada. Aprendi o que era bom e depois não podia mais ter, mas tudo bem.

PLAYBOY — O começo em São Paulo foi muito difícil?

GISELE — No início eu tinha que ir para os testes de metrô. Não tinha dinheiro para pegar táxi. De vez em quando passava por baixo da roleta dos ônibus para não pagar, porque titha de economizar e não queria pedir aos meus pais. Queria ser independente com 14 anos! Eu ia às revistas com o meu book debaixo do braço, andava a cidade inteira, ia para a Mooca, para a Lapa, ia para não sei onde. Conheço São Paulo inteira de metrô e de ônibus.

PLAYBOY — Como eram as seleções? 

GISELE  Tinha umas 100 meninas no casling, o cara olhava para o seu book, olhava para a sua cara e falava:"Muito obrigado". Era um não. Eu já sabia. Na hora em que entrava na sala, sabia se era um não ou um sim. Pela maneira como as pessoas me tratavam.

PLAYBOY — E foram muitos "nãos"?

GISELE — Nossa! Muitos! Nesse business o que você mais ganha é não. De vez em quando eu ouvia: "Ela não é certa para o trabalho." Ou: "O corpo dela não é legal", "É muito magra, o nariz é grande, o olho é isso." "Não sabe trabalhar a câmera." Só que eu não ia deixar esse bando de gente me abalar. Não ia receber cinco "nãos" na cara e desistir. Não sou desse tipo de pessoa. Eu vou atrás do que quero e não importa o que aconteça.

PLAYBOY — Tem gente que antes esnobava você e hoje bajula?

GISELE — Tem pessoas que diziam que eu era isso, era aquilo e hoje em dia... [Pausa.] Acho isso engraçadíssimo.

PLAYBOY — Quem, por exemplo?

GISELE — Não vou falar nomes, mas muitas pessoas. Eles acham que eu não me lembro. Mas eu não esqueço nada. Não esqueço nada desde o dia em que nasci.

PLAYBOY — Você é rancorosa?
GISELE  Já fui mais. Deixei isso de lado. Entendo que eu não interessava a eles. Não vou ser agora uma bruxa com as pessoas que me trataram mal quando eu comecei. Hoje fica todo mundo puxando o meu saco e beijando a minha bunda. Mas aquela época não era assim. Não era moleza.

PLAYBOY — É verdade que você chegou a Nova York sem saber falar inglês?

GISELE — É, sim. Eu morava com outras cinco modelos e elas não gostavam muito de mim. Daí me ensinaram a palavra asshole [algo bem pior que "bundão"]. Disseram que qualquer pessoa que eu encontrasse deveria falar asshole. Fiquei o dia inteiro decorando: asshole, asshole, asshole. Cheguei à portaria do meu prédio e falei para o porteiro: "Good morning asshole!" Ele não falou nada. Cheguei à agência e cumprimentei a minha booker do mesmo jeito. E ela: "Gisele!" [Risos.] Quando eu descobri o significado, quis matar as meninas.

PLAYBOY — Quem eram elas?

GISELE — Elas hoje não trabalham, não fazem nada. Tinha uma alemã, duas canadenses, uma que morava na Virgínia e outra que era de Nova Jersey.

PLAYBOY — Hoje como é sua casa em Nova York?

GISELE — Moro num dúplex, em Tribeca [um dos bairros mais charmosos de Nova York, onde vivem muitos (artistas]. Embaixo tem um lavabo, minha sala de jantar e a minha cozinha, que é aberta, o bar, uma salinha com televisão, a sala de receber visitas, onde fica o meu aquário, com 42 peixinhos. Para subir tem uma escada em caracol, aí quando chega lá em cima é o meu quarto, o banheiro e a minha salinha de TV, onde eu jogo videogame.

PLAYBOY — Você é boa em algum jogo?

GISELE — Carrinho. Ninguém ganha de mim no carrinho de corrida. Sou a melhor. [Notando a expressão de desconfiança do entrevistador] Vamos apostar! Você está pensando o quê?! Eu sou a rainha do carrinho. Até hoje nunca perdi.

PLAYBOY — O seu apartamento não tem uma salinha de ginástica?

GISELE — Não. Eu nunca fiz ginástica. Praticava muito esporte quando era criança. Agora, nada. Sou modelo há quase seis anos e nesse tempo todo nunca fui a uma academia nem joguei vôlei. A única coisa que faço é subir a escada da minha casa de vez em quando. Sou tão preguiçosa que às vezes fico só lá em cima.

PLAYBOY — Quantas pessoas trabalham para você na sua casa?

GISELE — Tenho só a Leticia, que é da Espanha. Ela trabalha para mim duas vezes por semana. Lava a roupa, limpa o chão... Mas na minha casa em Woodstock eu mesma faço a faxina. Vou todo fim de semana para lá. Quando chego, visto uma bermuda e uma camiseta velha, fico de pé descalço, pego um panão basicão, um baldão, um pouco de sabão em pó...

PLAYBOY — Sei. Você encara a faxina pra valer?

GISELE — Você não tem ideia! Eu sou maníaca por limpeza. Na minha casa eu sou 100% organização. As minhas coisas eu sei onde tudo está. Gosto de tudo limpinho. Odeio sujeira.

PLAYBOY — E na cozinha, você faz alguma coisa?

GISELE — Ovo. No café da manhã, gosto de omelete batido com torrada. Passo uma manteiguinha na torrada, faço sanduichinho de ovo. Eu adoro ovo. Ovo é a minha coisa favorita. Também gosto de cereais com leite. Taco um monte de mel lá. Adoro mel. Como mel igual respiro.

PLAYBOY — Quer dizer que você só sabe fritar ovo?
GISELE — Não! Faço uma porção de coisas. Sei fazer torta salgada, bolo de chocolate, brigadeiro... Adoro fazer brigadeiro, é superfácil. Sei cozinhar estrogonofe. De carne, frango ou camarão. Daí preparo o arroz e ponho batata palha junto. Fica uma maravilha, não demora nem meia hora.

PLAYBOY — Pelo jeito, você não faz dieta.

GISELE — Não. Tenho tanta coisa para fazer... Eu vejo comida como fonte de energia. E é o que é. Sem gasolina, não tenho como me mover. Sou viciada em açúcar. Preciso de mel, chocolate, bala... Todo dia pipoquinha doce. Não consigo ficar um dia sem comer açúcar. Tenho que comer para conseguir fazer as minhas coisas. Ainda mais nesse ritmo, sempre pra lá e pra cá.

PLAYBOY — Já teve algum dia em que você acordou em Paris, foi dormir em Milão e acordou no outro dia em Tóquio, por exemplo?

GISELE — Nossa! Uma vez estava fotografando em Nova York, saí do estúdio umas 7 da noite, fui para o aeroporto, peguei o vôo para Los Angeles, cheguei a Los Angeles de manhã, trabalhei o dia inteiro, depois embarquei para Paris. Cheguei, fui direto para o estúdio, trabalhei, depois peguei o trem de noite para Londres, onde já tinha gente me esperando para fazer um editorial. Já dormi em avião duas, três noites seguidas. Isso na época em que eraworkaholic. No início é mais difícil, você tem que batalhar, nada vem de graça.

PLAYBOY — Qual foi o trabalho mais difícil que você já fez?

GISELE — Foi com certeza um comercial para o perfume Oxygene, da Lanvin, na Islândia. Fazia um frio que doía a alma, doía para respirar. E eu estava com um vestidinho de alcinha! Me colocaram em cima de um iceberg falso, de isopor, que ficava no meio do gelo. Eu tinha que ficar rodando naquele negocinho que balançava o tempo inteiro. Os técnicos estavam a distância, num barco, agasalhados e com colete salva-vidas. Eu não podia usar colete porque seria filmada. Se caísse, morreria: Não daria tempo para o barquinho me resgatar. E a equipe de filmagem num helicóptero, voando em cima de mim. Depois, para fazer outra cena, eles ainda me fizeram pôr os pés num lago com água a 20 graus abaixo de zero! Água onde pingüim vive e eu lá, de pé descalço! Não sentia mais os pés, as mãos, o nariz, nada! Quando acabou eles tiveram que me carregar para fora da água porque meu pé congelou e eu não conseguia andar. Daí eu falei: "Ah, não! É só comigo, é?!" Fiz todo mundo da equipe tirar o sapato e pôr os pés na água gelada! Não ia ficar sofrendo sozinha.

PLAYBOY — Houve outra parada dura?

GISELE — Várias! O ensaio para a [revista americana] Big foi cansativo, uma edição inteira em cinco dias. Tinha uma luz vermelha que quase me matou, menino! Era tipo um aquecedor, que ficou na minha cara, e eu suando, o negócio queimando a minha pele. Colocaram purpurina em mim e a foto não saía porque eu não conseguia ficar de olho aberto. Fiquei com brotoeja o dia inteiro.

PLAYBOY — Você recusa trabalho?

GISELE — Muitos. Quanto mais famosa você é, mais qualidade tem que ter no seu trabalho. já trabalhei muito e hoje em dia posso selecionar melhor.

PLAYBOY — Você ficou rica?

GISELE — Não falo sobre dinheiro.

PLAYBOY — Esta entrevista é uma boa oportunidade para liquidar com as especulações a esse respeito. Estima-se que durante este ano você deverá faturar pelo menos 5 milhões de dólares e que seu património pessoal é de 1,5 milhão de dólares.

GISELE — [Irritada.] Não me importo com isso, não preciso esclarecer nada para ninguém. Não tenho que provar o quanto ganho.

PLAYBOY — É verdade que você não sai de casa por menos de 20.000 dólares?

GISELE — [Irritada.] É mentira.

PLAYBOY — E quanto à fama de pão-dura?

GISELE — Não sou pão-dura. É que eu não sou fútil. Não entro numa loja da Prada ou da Gucci e gasto 30.000 dólares só porque tenho dinheiro. Não tenho necessidade disso. Não gasto dinheiro com essas besteiras, mas não fico regulando com o que é importante. Tenho uma vida ótima, dou uma vida ótima para a minha família.

PLAYBOY — Qual a maior extravagância que você já fez?

GISELE — Exagerei só uma vez. Foi no dia do jantar na Casa Branca. Eu ia com um brinco de peninha e minha agente, a Monica Monteiro, viu e falou: "Gisele, você não pode colocar peninha para ir ao jantar do presidente Bill Clinton!" [Risos.] Daí, indo para o aeroporto [para pegar o vôo de Nova York para Washington], parei na Tiffany's e comprei um bracelete de brilhantes e um brinco de brilhantes. Essa foi a única vez na vida em que gastei tanto dinheiro sem pensar. Fui lá, entrei, fiquei 15 minutos, falei "é isso e isso" e fui embora.

PLAYBOY — Como foi a festa na Casa Branca?

GISELE — Foi uma coisa mais formal. Tinha um coquetel, uma comidinha, a galera toda no jardim. depois a gente entrou. Todo mundo tinha que passar no detector de metais. Lá dentro tinha um monte de mesas. O presidente estava junto com a mulher dele numa mesa imensa. Os convidados eram jornalistas, atores, diretores de cinema. Aquele apresentador, o Jay Leno, o [ator] Kevin Spacey, o [ator] Rob Lowe. Tinha um monte de gente lá.

PLAYBOY — Você foi apresentada ao presidente Bill Clinton?

GISELE — Sim, depois do jantar. Ele foi bem simpático. Disse assim: "Prazer em conhecê-la. Parabéns pelo seu grande trabalho". A festa foi legal, só que não tinha dança, não tinha nada, era só ficar sentada lá.

PLAYBOY — Não é o tipo de festa que você curte.

GISELE — Gosto daquelas festas em que eu danço e me divirto bastante. Uma vez eu e meus amigos saímos para dançar, fomos a um lugar em Nova York em que ninguém sabia quem eu era, fechamos todo o andar de cima só pra nós. Só tocavam música dos anos 80, Madonna, Prince, aquelas que você dança bastante, sabe?

PLAYBOY — Então você é chegada numa balada?
GISELE — Não é isso. Eu não saio muito à noite. Saio uma vez por mês, muito raramente. Fico triste quando a imprensa faz um bafafá, inventa coisas. Qual é a realidade? Tenho 20 anos, uma família maravilhosa, amigos maravilhosos, um trabalho maravilhoso, aprendi muito, viajei muito, vi muita coisa, ganho dinheiro. Eu sou feliz! Vivo a minha vida de uma maneira correta! Saio para trabalhar, faço o meu trabalho direito, volto para casa e sou a Gisele! Você não é repórter 24 horas por dia, me desculpe, eu também não sou modelo 24 horas por dia. Sou normal! As pessoas pensam que vida de modelo é 100% glamour! Que é toda hora piripipi, poropopó. Não tem nada a ver! É só um trabalho, a única diferença é que não é das 9 às 5, entendeu? E normalmente trabalha-se muito. Por que não posso me divertir? Por que têm de chegar e falar que eu faço isso e aquilo?

PLAYBOY — Você está se referindo às especulações quanto ao uso de drogas?

GISELE — [Categórica, falando sílaba por sílaba.] Eu não uso nenhum tipo de droga. Droga é uma coisa tão estúpida... Destrói a vida das pessoas. Sou tão feliz, tenho tudo, por que vou estragar minha vida com essas porcarias?

PLAYBOY — O seu ex-patrão, o dono da agência Elite, John Casablancas, disse em entrevista a PLAYBOY [edição de abril de 2000] que você fuma maconha todos os dias.

GISELE — Ele achou que falando mal de mim, inventando coisas a meu respeito, ia me destruir. Só que não conseguiu nada disso e eu não me rebaixei ao ponto dele. Ele sempre puxou meu saco quando eu estava na agência dele. Quando saí e ele parou de ganhar dinheiro comigo, ficou zangado.

PLAYBOY — Hoje, o que as pessoas fazem para bajular você?

GISELE — Tudo. Às vezes mandam limusine para me pegar em casa. E não existe nada mais ridículo do que limusine! Acho horroroso! Não tem nada mais brega nem mais pretensioso. Se aparece uma limusine, eu não entro de jeito nenhum!

PLAYBOY — Isso já aconteceu muitas vezes?
GISELE — Nossa! Milhões de vezes. Uma vez eu estava num hotel em Los Angeles, pedi um táxi para o aeroporto e, quando desço, lá está a limusine. Falei: "Ah, não, eu não vou entrar!" Preferi esperar por um táxi. Quase perdi meu vôo.

PLAYBOY — Os entendidos dizem que você subverteu as regras das passarelas com seu jeito de desfilar. O que acha disso?

GISELE — Mudo o jeito de andar dependendo da roupa que estou usando. Meu trabalho é apresentar a roupa de uma maneira bonita. Ela tem de mexer bem. Os movimentos também dependem da música. Um pique up, uma coisa mais devagar ou mais energética.

PLAYBOY — Dizem também que você abriu caminho para as modelos não-anoréxicas.

GISELE — Meu, é o seguinte: toda a mulher quer ter peito e bunda. Toda mulher tem que parecer mulher, se sentir sexy e bonita. Quem é que quer ficar esquelética, horrorosa ou parecendo um homem?! Eu é que não quero!

PLAYBOY — Quais brasileiras estão despontando no cenário internacional da moda?

GISELE — Brasileira? [Pensando.] Acho que... [Pausa.] Ih! Eu arrotei. Desculpe, sou humana, eu arroto de vez em quando... [Risos.] Acho que a Carol Magalhães Ribeiro e a Fernanda Tavares.

PLAYBOY — Quando encerrar a carreira de modelo, o que você pretende fazer?

GISELE — Prefiro ficar aposentada. [Risos.] Estou brincando. Vou trabalhar, quero fazer uma organização para ajudar crianças. Também adoro falar. Acho que vou apresentar o Jornal Nacional: "Boa Noite, Brasil! Como é que está a galera?" [Risos.] Qualquer coisa que eu possa falar, eu vou adorar. Um talk show, por exemplo. O resto é tudo beleza.

PLAYBOY — E a história que o diretor de cinema Steven Spielberg pediu para ver umas fotos suas e tal? Ele chegou a fazer uma proposta?

GISELE — Nunca mais ouvir falar desse Spielberg. A minha agência [MG] é que estava tendo contato com ele. Não vou lá, não vou ligar, falar, nananã... Não sei de nada. Sei apenas que ele pediu meu book, queria que eu fizesse um teste para um filme dele. Só que nunca fui a Los Angeles fazer o tal teste.

PLAYBOY — Vamos falar um pouco sobre corpo. O que você mais gosta no seu?
GISELE — Não tem uma parte que eu goste demais. Tudo está beleza. Não tem problema.

PLAYBOY — Suas pernas, por exemplo?

GISELE — Minhas pernas com certeza não são... [Pausa.] Minha mão quando está feita é bonitinha, o que você acha? [Risos.] É pequeninha. [Pausa.] Acho o meu pé delicadinho porque eu tenho 1,79 m e calço 37. [As outras medidas: peso, 52 kg; busto, 86 em; cintura, 59 cm; quadril, 85 cm.]

PLAYBOY — E de qual parte você não gosta? O que mudaria, se pudesse?

GISELE — Minha bunda.

PLAYBOY — Embora nós não tenhamos nenhuma queixa, todo mundo fala que você não tem bunda. É verdade?

GISELE — Tenho uma bundinha. Não gosto de bunda grande porque não gosto de celulite. [Risos.] E toda mulher tem celulite.

PLAYBOY — Mas você não tem!

GISELE — É óbvio que tenho, todo mundo tem! Não tenho aquelas crateras gigantescas, mas se eu apertar a bunda e espremer assim bem espremidinha eu encontro. Eu acho que sim, né? [Risos.]

PLAYBOY — Você colocaria silicone?

GISELE — O meu peito é muito grande já, meu filho! Você está louco?

PLAYBOY — Silicone no bumbum, já que você disse que é pequeno!

GISELE — Não! Sai daí, meu! Eu não ia botar silicone, desculpa. Sou feliz com o que Deus me deu. Não tenho nenhum problema com isso. [Risos.]

PLAYBOY — Você tem muitos cuidados com o corpo, usa muitos produtos?

GISELE — Por incrível que pareça, sou a pig [porca] das pigs. Não uso muitos cremes. De vez em quando eu passo um creme hidratante para o corpo. Mas só de vez em quando, quando vejo que a minha pele está caindo! [Risos.]

PLAYBOY — E nada mais?

GISELE — Xampu eu não uso todo dia porque resseca o cabelo. Então, lavo dia sim, dia não. Não tenho nenhuma marca específica, passo qualquer um que tiver na hora. Sabonete eu gosto dos de coco, aqueles com cheirinho de limpinho, de nenezinho novinho.

PLAYBOY — Quais mulheres você acha mais bonitas que você?
GISELE  Um monte de mulheres.

PLAYBOY — Por exemplo.

GISELE — Julia Roberts, annnn, deixa eu pensar... [Pausa.] Tem tantas... [Pausa.]

PLAYBOY — Tem que fazer um esforço...

GISELE — Não tenho que fazer esforço, é fácil, eu quero pensar as mais bonitas mesmo. [Risos.] Acho que Julia Roberts, [a atriz americana] Lucy Liu, minha mãe. Se quando tiver a idade da minha mãe eu me parecer com ela vou ser a pessoa mais feliz do mundo.

PLAYBOY — Mais uma.

GISELE — Deixa eu pensar numa brasileira... [Pausa.] Tem tantas... Eu acho que... A Vera Fischer é superlinda para a idade que tem.

PLAYBOY — E quais homens são muito bonitos?

GISELE — [O ator] Johnny Depp é o mais maravilhoso. É com certeza o meu favorito, o mais bonito. Tem uma coisa sensual de bad boy. Ele vale por todos.

PLAYBOY — Você o conhece?

GISELE  Não. Pois é... Não sei se um dia vou me desapontar quando conhecê-lo e achar que ele é o ó do borogodó. [Risos.]

PLAYBOY — Já teve algum que você se desapontou quando conheceu?

GISELE — Não, não. Nunca espero muito das pessoas até conhecê-las.

PLAYBOY — Por exemplo, o ator George Clooney, que andou paquerando você durante aquele editorial para a revista Vogue, é um cara bacana?

GISELE — Ele é na boa. Fotografamos durante dois dias. Ele me ensinou a jogar futebol americano, foi comprar McDonald's pra mim, demos muitas risadas... Quando ficou sabendo a minha idade, disse que poderia ser meu pai. [Risos.]

PLAYBOY — Você declarou certa vez que adoraria namorar um surfista. Por quê?

GISELE — Sempre tive essa ideia porque para o surfista não tem nada mais importante do que o mar. Ele deixa a namorada na praia e vai para a onda, não tá nem aí para a namorada.

PLAYBOY — Então você quer um namorado que não lhe dê atenção? A mulherada quer exatamente o con­trário!

GISELE —
 Eu adoro atenção mas ao mesmo tempo sou muito livre, enten­de? Não gosto de me sentir presa, com alguém no meu pé. Por isso vem a ideia do surfista. Para o surfista a mu­lher vem em segundo plano. Para mim, o namoro sempre virá em segun­do plano também. A minha família vem em primeiro, depois o meu traba­lho. Gostaria de ter um namorado que não dependesse de mim para tudo, que não ficasse assim "amorzinho pra lá e pra cá" toda hora.

PLAYBOY — Que não babe muito por você.

GISELE — É. Ficar no pé o tempo todo enchendo o saco também não dá, né?

PLAYBOY — Já teve algum assim?

GISELE — Já. Não vou falar mal dos meus namorados, mas sempre rola aquele negócio de ciúme, de posse. Ti­po não poder nem sair na rua porque se algum homem olhar para você O ca­ra já quer bater...

PLAYBOY — O [empresário e playboy] João Paulo Diniz [herdeiro do Grupo Pão de Açúcar] era muito ciumento?

GISELE — O João Paulo não foi meu namorado. A gente nunca namorou. Ele é meu amigo. Acho ridículo as pes­soas falarem...

PLAYBOY — Peraí. Algumas revistas publicaram fotos de vocês dois junti­nhos, abraçados.

GISELE — Vamos deixar essas coisas íntimas de lado.

PLAYBOY — É normal falar de rela­cionamentos...

GISELE — Vamos dizer que rolou um beijinho. [Pausa.] E nada mais aconte­ceu. Eu era amiga dele, rolou um beijinho e depois a gente decidiu que isso ia estragar a relação de amizade. Pra gente é mais importante ser amigo do que qualquer outra coisa.

PLAYBOY — Mas o [modelo america­no aspirante a cineasta] Scott Barnhill você namorou.

GISELE — Namorei. Até hoje tive só dois namorados: o Douglas, que era modelo da Elite quando eu morava aqui em São Paulo, e depois o Scott. Namoramos durante dois anos e meio, até novembro do ano passado.

PLAYBOY — Por que acabou?

GISELE — Porque ele é uma pessoa superciumenta. Mas a razão maior foi porque ele se mudou de Nova York para Los Angeles. A gente não conseguia se ver e por causa disso o ciúme aumentou. Ele ficava pensan­do coisas. As pessoas falam mentiras, inventam coisas, e um namorado ciu­mento vendo isso acredita. Ele não acreditava mais em mim, a gente bri­gava todo dia. Não posso namorar uma pessoa que não acredita no que eu falo. Não posso ficar me estressan­do com ciúme, com relacionamento a distância.
PLAYBOY — Você tem histórico de namoros longos?

GISELE — Não tive muitos homens na minha vida Foram só dois namora­dos sérios. Só com esses homens eu... [Pausa.]

PLAYBOY — Sexualmente, como vo­cê se define: comportadinha, normal, ousada ou ultra-agressiva?

GISELE — Depende. Depende da si­tuação. [Risos.]

PLAYBOY — Qual foi a maior loucura que você já fez nesse departamento?

GISELE — Não vou falar. [Gargalhadas.] Isso é só entre quatro paredes!

PLAYBOY — Em que lugar prefere?

GISELE — Na cama. [Risos.] É o mais confortável. [Risos.] Esse negócio de na praia, em lugares estranhos, não funciona. Na cama, molinha, confortável, king size é melhor, com certeza.

PLAYBOY — Como foi a primeira vez?

GISELE — Foi com o meu primeiro namorado, no apartamento dele, em São Paulo. Foi superlegal. Acordei e ele trouxe café da manhã na cama, pãozinho de queijo... Quando desci para ir trabalhar, o carro dele estava lotado de rosas vermelhas, transbordando! Ele era o máximo.
PLAYBOY — Você pensa em se casar e ter filhos?

GISELE — Esse é o sonho de todo mundo. Quero me casar e ficar casada para o resto da vida, como meus pais e meus avós.

PLAYBOY — Como você se imagina daqui a trinta anos?

GISELE — Com 50 eu quero estar com os meu filhos criados. Quero ter um menino e duas meninas. Sempre quis ter um irmão que me defendesse, um irmão mais velho que desse porrada nos caras que me enchessem o saco.

PLAYBOY — Morando onde?

GISELE — No Brasil. E tendo as minhas casas no exterior para poder viajar. Quero morar numa fazenda perto da praia. Ia gostar de acordar vendo a mata e depois surfar no mar.

PLAYBOY — Você é do tipo que vai cuidar do maridinho, fazer jantarzinho e tal?

GISELE — Claro! Sou superromântica. Adoro fazer surpresas. Já cancelei trabalho para visitar o meu [então] namorado na casa dos pais dele. Peguei o avião, fui para a Flórida, cheguei lá sem ele saber. Sem combinar nada, levei já compradas duas passagens pra gente embarcar de férias para a Costa Rica.

PLAYBOY — Que país você gostou muito de conhecer?

GISELE — A Itália. Amo de paixão. Depois do Brasil, é o país mais maravilhoso.

PLAYBOY — Você fala quantos idiomas?

GISELE — Além de português, inglês, espanhol, italiano e francês.

PLAYBOY — Pretende voltar para a escola?
GISELE — Difícil. Eu não terminei o segundo grau, ficou faltando um ano, depois teria faculdade, mais cinco anos... Não aconselho ninguém a fazer o que eu fiz, sair da escola, porque não é sempre que dá certo. No meu caso, aprendi muito na escola da vida, a melhor que existe. Falo cinco idiomas, conheço o mundo inteiro, milhões de culturas. Agradeço a Deus por tudo isso.

PLAYBOY — Você é religiosa?

GISELE — Acredito em Deus. A minha família é católicã, eu sou católica também, só que não do tipo que vai à igreja ouvir o padre. Sempre que acontece alguma coisa boa, a primeira coisa que eu faço é dizer "Obrigada, Senhor." E também fiz uma promessa para rezar todos os dias.

PLAYBOY — Promessa para quê?

GISELE — Para Deus salvar minha irmã gêmea. A Patrícia quase morreu de pneumonia, ficou um mês internada. Prometi rezar diariamente se ela vivesse e, graças a Deus, ela ficou boa.

PLAYBOY — O que você reza? Pai-nosso, ave-maria?

GISELE — Sei rezar todos esses negócios, que aprendi na escola. Tenho uma tia que é freira. Mas prefiro falar com Deus naturalmente. Oração é uma coisa muito pessoal, todo dia é uma coisa diferente. Rezo agradecendo o dia, olhando para o céu, como minha avó ensinou. Peço proteção para a minha família e termino rezando para meu anjo da guarda: "Anjinho da guarda, meu bons amiguinho, sempre me leve ao bom caminho". E aí eu vou dormir.

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