ESSE EÇA DE QUEIRÓS


Entre 1865 e 1900, foi o mais mordaz dos nossos escritores, o mais feroz dos nossos críticos. Mas quem diria que, mais de um século passado, muitos dos escritos de Eça de Queiroz continuam plenamente atuais?

Não estranhe se acaso ler seu sobrenome escrito "Queirós" ou "Queiroz". O primeiro foi como ele ficou conhecido, no entanto, o segundo é como está no seu registro de nascimento.

Eu simplesmente amo suas obras! Dos contos aos romances mais populares.

Importante autor da segunda fase do Romantismo português, Eça de Queirós nasceu no dia 25 de novembro de 1845, na cidade que fica na região Norte de Portugal, Póvoa de Varzim.

Estudou Direito na Universidade de Coimbra e morreu aos 54 anos, no dia 16 de agosto de 1900.

Entre suas obras, as mais populares são "O Primo Basílio", "O Crime do Padre Amaro" e "Os Maias". A última, a minha favorita. Adoro o enlace amoroso e conflituoso dos personagens Carlos Eduardo e Maria Eduarda.


"Os Maias" tem como principal característica a denúncia da hipocrisia portuguesa, a vida desregrada da elite e a ociosidade da burguesia, que vivia em meio à luxúrias, farras e comodismos. Busca através das falas e das ações dos personagens, promover nos leitores a reflexão e o questionamento relacionados ao contexto histórico da época.

Com a narrativa em terceira pessoa, o narrador onisciente traz em seu enredo um entrelaçar de histórias envolvendo a família Maia, no qual a própria residência da família, ambiente em que se passa boa parte das ações, vem a ser considerada como "personagem" da trama.

Os personagens principais entregam o Realismo, tendo suas realidades analisadas e reproduzidas fielmente.

O jovem Carlos Eduardo da Maia, educado no padrões britânicos e adepto de farras e aventuras amorosas, desempenha paixão pela Ciência, formando-se em Medicina.

Fábio Assunção como Carlos Eduardo
Carlos da Maia, fisicamente era um belo e magnífico rapaz, alto, bem constituído, de ombros largos, olhos negros, pele branca, cabelos negros e ondulados e uma barba fina, castanha escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode era arqueado aos cantos da boca; psicologicamente era culto, bem-educado, de gostos requintados. É corajoso e frontal, amigo do seu amigo e generoso. Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a sensualidade, o gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se fixar num projeto sério e de concretizá-lo). Contudo, apesar da sua educação, Carlos fracassou, não foi devido a esta mas falhou, em parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos e também devido aos aspectos hereditários – a fraqueza e a covardia do pai, o egoísmo, a futilidade e o espírito boêmio da mãe. Eça quis personificar em Carlos a idade da sua juventude, a que fez a Questão Coimbrã e as Conferências do Casino e que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo. Tinha um vestuário clássico, sem muitos padrões.

Há neste personagem o confronto entre o Romantismo e o Realismo sendo aquele um fenômeno opositor e contestador da forma em que este enxergava e mostrava o mundo.

Maria Eduarda traz em sua figura a denúncia aos bons costumes de Portugal, uma vez que a mesma não é casada e ainda se torna amante de Carlos Eduardo, enquanto comprometida com outro homem.

Ana Paula Arósio como Maria Eduarda
Fisicamente era uma bela mulher: alta, cabelos loiros ondeando ligeiramente sobre a testa bem feita, sensual e delicada, "com um passo soberano de deusa", é "flor de uma civilização superior, faz relevo nesta multidão de mulheres miudinhas e morenas", era bastante simples na maneira de vestir, "divinamente bela, quase sempre de escuro, com um curto decote onde resplandecia o incomparável esplendor do seu colo", psicologicamente, podemos verificar que Maria Eduarda nunca é criticada, é uma personagem delineada em poucos traços, o seu passado é quase desconhecido o que contribui para o aumento e encanto que a envolve. A sua caracterização é feita através do contraste entre si e as outras personagens femininas, e ao mesmo tempo, chega-nos através do ponto de vista de Carlos da Maia, para quem tudo o que viesse de Maria Eduarda era perfeito, "Maria Eduarda! Era a primeira vez em que Carlos ouvia o nome dela; pareceu-lhe perfeito, condizendo bem com a sua beleza serena."

Maria Eduarda é sempre apresentada ao leitor como uma "deusa transviada", como um ser superior que se destaca no meio das mulheres lisboetas. Encarna a heroína romântica, perseguida pela vida e pelo destino, mas que acaba por encontrar, ainda que momentaneamente, a razão da sua vida, na paixão e no amor. Ela é também vítima do seu passado, das circunstâncias em que cresceu e viveu (bem ao jeito naturalista).

Outros personagens fazem o leitor se questionar a respeito do contexto histórico que marcava este movimento, como em João da Ega, personagem que evidencia a opinião revolucionária, ainda que inofensiva, do Realismo, além das manifestações de repúdio ao Romantismo na maioria de suas falas.

Selton Mello como João da Ega
Mas, Eça demonstrou-se minucioso e sagaz por toda a obra.

Walmor Chagas como Afonso da Maia e seu neto: Carlos Eduardo
O patriarca da família, Afonso da Maia, torna-se viúvo de um casamento tradicional, o que leva o leitor a notar um Romance Decadentista.

Já seu filho, Pedro da Maia, jovem sem alegria e melancólico, denuncia a fraqueza dos românticos: a morte é a saída para as desilusões da vida. Uma representação do Romance Romântico, em que não havia razão para viver até encontrar um amor, e por esse amor ou devido a ele, morrer. A sensual Maria Monforte, com quem teve dois filhos, é a sua razão de tudo.

Leonardo Vieira e Simone Spoladore como o romântico Pedro da Maia e a sensual Maria Monforte
No entanto, em Carlos, o autor deposita o comportamento realista com traços quase imperceptíveis do Romantismo.

O desfecho da obra não é trágico, a não ser que o leitor considere uma tragédia o fato dos dois serem irmãos, o que para mim, não é mais que um motivo para ambos se desiludirem diante das situações nas quais a vida real nos impõe.

Maria Eduarda (Ana Paula Arósio) e Carlos Eduardo (Fábio Assunção)

A obra de Eça foi exibida na rede Globo como minissérie em 2001, sobre a adaptação de Maria Adelaide Amaral, Vincent Villari e João Emanuel Carneiro, numa trama que trazia também elementos de outra obra do escritor "A Relíquia".

O elenco contava com Ana Paula Arósio e Fábio Assunção como Maria Eduarda e Carlos Eduardo, Walmor Chagas como o patriarca Afonso da Maia e avô dos dois, além de Leonardo Vieira e Simone Spoladore como seus pais: Pedro da Maia e Maria Monforte. Vale ressaltar o maravilhosa atuação de Selton Mello como João da Ega, e na adaptação, o retorno de Maria Monforte, estupendamente bem interpretada pela saudosa Marília Pêra.

Maria Monforte (Marília Pêra)
Na minissérie, sua personagem reproduz uma das falas do personagem do livro de Eça, Manuel Vilaça, antigo administrador da família Maia:

"Sempre foram fatais aos Maias as paredes do Ramalhete"

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